http://br.youtube.com/watch?v=r_w_lckqz8A
Desejos perversos do invejoso
Há 12 anos
Porque eu sou uma vida com furibunda melancolia, com furibunda concepção. Com alguma ironia furibunda. Sou uma devastação inteligente. Com malmequeres fabulosos. Ouro por cima. A madrugada ou a noite triste tocadas em trompete. Sou alguma coisa audível, sensível. Um movimento. Herberto Helder, Poemacto II
Poderia ser uma história kafkiana a que se tem construido em minha casa. Cada vez que me aproximo e abro a porta, deparo-me com complicadíssimos labirintos que a minha lógica rasteira não consegue resolver. Entro numa divisão e vejo objectos estranhos que parecem ganhar vida e mover-se de dia para dia. Quando julgo ter acabado de resolver um enigma já outro se me apresenta. Isto não tem fim! A minha casa metamorfoseou-se e quer arrastar-me, juntamente, na confusão.
Costumo dizer que as pessoas têm uma ideia errada de mim. Quando penso nisso questiono-me se não serei eu própria que ajudo a construir essa imagem desfocada daquilo que eu penso ser. Vamos por partes; há quem julgue que me tenho em grande conta, com manias de super-mulher, megalómana, que se julga com uma capacidade extrema de trabalho, capaz de fazer um pouco de tudo, rápida, pragmática mas que,no fundo, não é esse o meu verdadeiro eu. Há quem pense que o meu lado mais genuíno reside nas minhas fragilidades ou na minha maior fragilidade que é, no fundo, o jeito inato para me vitimizar, para dizer que a vida foi madrasta comigo, que é tudo difícil e tirado a ferros e sei lá mais que lamentos. De facto, até acho que me vitimizo, que sou amarga e que tenho uma vida demasiado pesada, pelo menos, em relação às expectativas que construí referentes à minha vida. O que eu não sei é a origem dessa vitimização que é, de facto, um traço recorrente em mim.
O que é certo é que por debaixo da máscara de fortaleza, existe um ser humano frágil, com cicatrizes, carente, com uma grande necessidade de ser aceite e amado pelo outro. Será que tudo o que faço é para agradar o outro? E o que faço eu para me agradar?
Vivemos numa sociedade cada vez mais consumista e consumidora de sonhos. Entram-nos pelos olhos imagens de vidas perfeitas, passadas em casas de sonho, com relvados verdejantes, piscinas, cadeirões e recantos que fariam a delícia do nosso ego.