quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Caminhos de risco

Paul Klee - "Caminhos Principais e Caminhos Secundários", 1929

Depois de um dia excessivamente longo que culminou com uma formação sobre comportamentos de risco, dei por mim a pensar como gostaria de riscar do mapa o dia de ontem.
Como ultimamente me apetece riscar muitos dias da minha vida, posso até estar perante um comportamento de risco. Espero que o meu lápis não se parta!
Não sei o que está a acontecer à classe docente. Por vezes, tenho a real sensação de que, com a idade, caminhamos para a estupidificação. Disponibilizamo-nos a tudo (em nome de quem?para quê?) até mesmo a alinhar em estratégias que, em vez de nos formarem nos deformam ainda mais a inteligência. Ontem estive a atirar um novelo de fio aos colegas (não o fio de Ariadne!) no intuíto de os conhecer melhor. Desenhou-se um labirinto de fios, uma rede (tão na moda!), em que todos (aranhas cegas!) lhe segurámos numa ponta e, em pura comunhão ,pudemos sentir as vibrações uns dos outros. Um verdadeiro momento de risco levado à letra!
Parece-me que, para muitos de nós, onde evidentemente me incluo, já não há uma linha nítida entre "caminhos principais e caminhos secundários". A fronteira é de tal forma pálida e esfumada que nos tornamos cada vez mais indefinidos.
Ontem aprendi que, na minha profissão, pensar é um comportamento de risco.

sábado, 16 de janeiro de 2010

Indecibilidades


Escher

Sobre o teorema da incompletude...

Teorema 1: "Qualquer teoria axiomática recursivamente enumerável e capaz de expressar algumas verdades básicas de aritmética não pode ser, ao mesmo tempo, completa e consistente. Ou seja, sempre há em uma teoria consistente proposições verdadeiras que nao podem ser demonstradas nem negadas."
Teorema 2: "Uma teoria, recursivamente enumerável e capaz de expressar verdades básicas da aritmética e algumas verdades de probabilidade formal, pode provar sua própria consistência se, e somente se, for inconsistente.".

De caras !


A rede social Facebook é um fenómeno que, ultimamente, me tem feito pensar sobre as alterações que a tecnologia provoca nos comportamentos humanos.
Antes era importante haver uma figura "real" à nossa frente, com quem conversar, dar a cara, discutir sobre diferentes pontos de vista, ideias e ideais. A necessidade de contacto físico,tão importante para o ser humano, está a ser, progressivamente, substituida pelo contacto virtual.

Afinal, o que leva tanta gente a aderir a esta rede social?

Surgem-me, de imediato, várias razões possíveis: a novidade (tudo o que é novo se torna, inicialmente,mais apelativo aos nossos olhos); falta de tempo para conviver e estar com os amigos (a eterna questão da falta de tempo?); comodismo (afinal posso ir a tantos sítios dentro das quatro paredes do meu quarto!) ;poupança (a conta da internet é certa, mas ir ao cinema e jantar fica bem mais caro)...
Ainda assim, não me parece que estas e tantas outras razões sejam motivo para este fenómeno de adesão.

Esta forma virtual de poder estar com os outros permite ter várias caras, fugir do que se teme em cada um de nós e projectar, na cara (face) que criamos, a pessoa que gostariamos de ser. Podemos ser sujeitos de duas caras ou ser caras de pau ou ser a outra face da moeda. No fundo, entrar no face é de caras. Podemos ter uma quinta, zoológico, empresas de construção, entrar na Mafia, ter amigos no mundo inteiro, mandar smiles,beijos, flores, presentes raros e todo um mostruário de desejos falhados que aqui se concretizam.
Pergunto-me se a febre do Face não será uma forma moderna de confessionário onde desejamos ser redimidos das nossas frustrações. Aqui tem-se a ideia de que tudo é possível, sem haver penas para os nosso pecados e limites para as nossas aspirações.
Será que é assim tão urgente esquecer o real?
Será assim tão grande a nossa solidão?

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Sobre o olhar...



Tenho descoberto, nesta minha inclusão pelos meandros da pintura a óleo, coisas extraordinárias, nomeadamente sobre a importância do olhar.
A propósito deste quadro de Lucien Freud, dizia-me um colega que visto ao vivo, as cores são de tal forma intensas que, se nos aproximarmos, conseguimos somente ver pinceladas de cor pura e intensa. No fundo, a pintura a óleo, nomeadamente de Freud é muito retineana. Necessitamos de nos afastar, de entrar no jogos de sombra -luz, cor - ausência de cor para ver a totalidade.
Não será também assim com a própria vida?
Cada vez tomo mais consciência que, estando demasiado próximo de um problema nos tornamos miopes, desfocamos a totalidade e o nosso olhar converge apenas para o imediato.
Saber olhar e ver aprende-se ao longo da vida.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Quanto vale uma palavra?

Foto: Jorge Molder

Tenho andado afastada da escrita. Parece que me zanguei com ela pelo simples facto de me confrontar e obrigar, de um modo mais lúcido, a olhar para mim.

Pelos vistos, preciso mais dela do que pensava.