
Há momentos em que tudo se torna demasiado real, intenso e quotidianamente insuportável. Talvez esteja nesta fase da vida onde apenas me limito a gerir o compasso estéril e monótono do tempo- sem rumo, sem alegria - cem lamentos!
Porque eu sou uma vida com furibunda melancolia, com furibunda concepção. Com alguma ironia furibunda. Sou uma devastação inteligente. Com malmequeres fabulosos. Ouro por cima. A madrugada ou a noite triste tocadas em trompete. Sou alguma coisa audível, sensível. Um movimento. Herberto Helder, Poemacto II
4 comentários:
"Sem" lamentos ou "cem" lamentos?... Talvez o lapso re-vele uma certa verdade: que aí onde parece não haver qualquer lamento há um "sem/cem" número deles.
F.P.
Não foi lapso...são mesmo cem lamentos.
A expressão "demasiado real" parece-me um pouco exagerada! Pode haver excesso em algo que é o que é e nada mais é do que isso?
Também a expressão "compasso estéril e monótono do tempo" parece revelar o início de um percurso ainda desconhecido. É natural que, quando se entra "por mares nunca dantes navegados", novas emoções surjam sem que as saibamos perceber e, portanto, controlar.
Mas temos mesmo que controlar tudo?
Que tal deixar que o compasso apresente as suas ársis e tésis próprias sem tentar manipulá-las? Depois, mas só depois, é possível compreendê-lo e, aí, seguir os seus impulsos naturais.
Como seres limitados pela imperfeição, nunca devemos tentar gerir, à nossa maneira, as leis da natureza - não temos capacidade nem competência para tal.
Então é mesmo isso...Só não percebo o número cem!
F.P.
Enviar um comentário