quarta-feira, 17 de outubro de 2007

Não estou!


Não estou pensando em nada
E essa coisa central, que é coisa nenhuma,
É-me agradável como o ar da noite,
Fresco em contraste com o verão quente do dia,
Não estou pensando em nada, e que bom!
Pensar em nada
É ter a alma própria e inteira.
Pensar em nada
É viver intimamente
O fluxo e o refluxo da vida...
Não estou pensando em nada.
Só, como se me tivesse encostado mal
Uma dor nas costas, ou num lado das costas,
Há um amargo de boca na minha alma:
É que, no fim de contas,
Não estou pensando em nada,
Mas realmente em nada,
Em nada...


Àlvaro de Campos

2 comentários:

jacinta disse...

olá finalmente cheguei aqui ao teu cantinho (escuro/preto?)Alvaro de Campos parece sempre adequar-se a estes momentos. Também o descobri companheiro de estrada em alguns momentos da minha vida..... depois virão outras poesias mais claras.....

jacinta disse...
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