Hoje fui renovar o meu BI. Sentada, à espera da minha vez, pensei que o bilhete é fácil de renovar mas a identidade não. Dei por mim a querer fugir daquele local que me oprimia. Depois vi que não era o local mas o motivo que me levou até ele (não é por acaso que adio a minha ida há várias semanas). Afinal o que fazia eu ali, afinal o que fiz eu da minha vida, o que estou eu a fazer? Senti-me completamente perdida, desnorteada, desmembrada, ferida, desiludida comigo mesma. Porquê? Porque ando em busca da minha identidade, do meu eu e constato que, afinal, a mudança do estado civil em nada me ajuda nesta cruzada.
Sinto-me à beira do precipício, da perda de lucidez e da capacidade para analisar racionalmente as coisas. Sei que não posso cair, que não me permito cair mas isso causa-me uma dor atroz.
Na minha infância tinha medo de dormir às escuras. Às vezes acordava ao meio da noite e, apesar de saber que estava numa cama, a minha cama, não conseguia distinguir onde estava a cabeçeira, a almofada... assustava-me imenso perder a noção de espaço ou não me encontrar na ordem normal das coisas.
Hoje, às claras, novamente sozinha, parece que me encontro a (re)viver o mesmo sentimento de pânico, de não saber encaixar-me no meu espaço, de perder a noção de mim mesma. A diferença é, no entanto, abissal. Já não há uma mãe que nos aconchega e que entra no quarto e nos guia novamente pelo caminho da luz. Agora sou eu que, bem ou mal, preciso de lidar com esse pânico, com essa desorientação, no fundo com o que eu própria fui capaz de me infligir.