domingo, 28 de outubro de 2007

O amor...

O amor é uma invenção
uma desorientação
uma fuga.

sexta-feira, 26 de outubro de 2007

Registos


Quando os passos desafinam e a harmonia se fractura
a pegada que estampamos não desvenda, de todo, a dissonância ritmica da dor.

quarta-feira, 24 de outubro de 2007

O bilhete!

Hoje fui renovar o meu BI. Sentada, à espera da minha vez, pensei que o bilhete é fácil de renovar mas a identidade não. Dei por mim a querer fugir daquele local que me oprimia. Depois vi que não era o local mas o motivo que me levou até ele (não é por acaso que adio a minha ida há várias semanas). Afinal o que fazia eu ali, afinal o que fiz eu da minha vida, o que estou eu a fazer? Senti-me completamente perdida, desnorteada, desmembrada, ferida, desiludida comigo mesma. Porquê? Porque ando em busca da minha identidade, do meu eu e constato que, afinal, a mudança do estado civil em nada me ajuda nesta cruzada.
Sinto-me à beira do precipício, da perda de lucidez e da capacidade para analisar racionalmente as coisas. Sei que não posso cair, que não me permito cair mas isso causa-me uma dor atroz.
Na minha infância tinha medo de dormir às escuras. Às vezes acordava ao meio da noite e, apesar de saber que estava numa cama, a minha cama, não conseguia distinguir onde estava a cabeçeira, a almofada... assustava-me imenso perder a noção de espaço ou não me encontrar na ordem normal das coisas.
Hoje, às claras, novamente sozinha, parece que me encontro a (re)viver o mesmo sentimento de pânico, de não saber encaixar-me no meu espaço, de perder a noção de mim mesma. A diferença é, no entanto, abissal. Já não há uma mãe que nos aconchega e que entra no quarto e nos guia novamente pelo caminho da luz. Agora sou eu que, bem ou mal, preciso de lidar com esse pânico, com essa desorientação, no fundo com o que eu própria fui capaz de me infligir.

terça-feira, 23 de outubro de 2007

Self Portrait.

My inland empire!

quinta-feira, 18 de outubro de 2007

Obá... o baú!


Quando conto uma história ao meu filho sinto-me como se abrisse o baú das minhas memórias e, de lá, retirasse o aroma das palavras que, na minha infância, nunca tive oportunidade de fruir.
O meu filho gosta de palavras. Mesmo não percebendo o seu "real" significado, apercebe-se que servem para fazer construções imaginárias com personagens fantásticas e aventuras intermináveis.
No fundo, as palavras são tijolos que nos ajudam a construir a nossa identidade, a nossa casa interior, o nosso porto de abrigo, a nossa história.
O que faríamos sem as palavras!

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

Não estou!


Não estou pensando em nada
E essa coisa central, que é coisa nenhuma,
É-me agradável como o ar da noite,
Fresco em contraste com o verão quente do dia,
Não estou pensando em nada, e que bom!
Pensar em nada
É ter a alma própria e inteira.
Pensar em nada
É viver intimamente
O fluxo e o refluxo da vida...
Não estou pensando em nada.
Só, como se me tivesse encostado mal
Uma dor nas costas, ou num lado das costas,
Há um amargo de boca na minha alma:
É que, no fim de contas,
Não estou pensando em nada,
Mas realmente em nada,
Em nada...


Àlvaro de Campos

terça-feira, 16 de outubro de 2007

Um dia baço


Um dia baço mas não frio...
Um dia como
Se não tivesse paciência pra ser dia,
E só num assomo,
Num ímpeto vazio
De dever, mas com ironia,
Se desse luz a um dia enfim
Igual a mim,
Ou então
Ao meu coração,
Um coração vazio,
Não de emoção
Mas de buscar, enfim -
Um coração baço mas não frio.


Fernando Pessoa

quinta-feira, 11 de outubro de 2007

Papoilas outonais

Nesta altura do ano os campos, outrora pincelados de girassóis e papoilas, estão secos, envelhecidos, empoeirados, abandonados, restolhados.
No ciclo da vida tudo tem o seu tempo.

Máscaras


Sozinha, quando me olho ao espelho, solto a armadura de ferro que me ergue o rosto. Não tenho ninguém a quem me mostrar a não ser a mim mesma. O reflexo nem sempre é agradável ao olhar. Sem a máscara da mulher de ferro, eficiente, elástica, polivalente, ficam apenas os traços da fragilidade, do cansaço, da aridez da pele envelhecida pelos anos e pelas lutas inglórias travadas contra mim mesma. Conheço mais a máscara do que o que está debaixo dela. Afinal não vivemos nós no mundo das aparências?

quarta-feira, 10 de outubro de 2007

Quadro negro?

Desiludam-se aqueles que pensam apagar da alma a sua história.
A vida não é um quadro negro onde se resolvem problemas matemáticos e onde nos é permitido apagar a equação em caso de engano. Tudo fica registado. O que acontece é que vamos amontoando registos, recalcando-os, criando a ilusão de que já não existem.

terça-feira, 2 de outubro de 2007

Adormecer!



Depois de uma batalha já não importa onde repouso o meu pó,
Cedo ao cansaço, às imagens descarnadas que me tingem a alma e me anestesiam o corpo,
fecho os olhos raiados de dor,
desprendo-me
desligo-me
durmo.