domingo, 7 de novembro de 2010

Sussurros

Foto:William Henry Fox Talbot

Volto ao encontro do riso e do choro das palavras, do prazer quente que elas me dão.
Desfolho-me em murmúrios desconexos e amarelecidos que, caídos no chão, baloiçam ao som do vento e se perdem na multidão.


Cai a chuva sem porquê

Garry Fabien Miller, Honesty, 1990

Cai a chuva sem porquê.

Sinto sem porquê, mas sinto.

Estou presa, dentro de mim, ao eterno (des)equilibrio do sem porquê.


sexta-feira, 2 de julho de 2010

Branco

Foto: Ralph Meatyard


O tique-taque marca o tempo
dentro do tempo um intervalo de silêncio
um hiato de vazio
um afunilamento para dentro
branco
tudo é branco
cortes profundos de branco
escorrendo.


sábado, 12 de junho de 2010

Entardecer

Foto: Edward Weston

Espera-me ao entardecer
onde o grito e a palavra se fundem na palidez
onde a história se conta de silêncio
onde o vento é a única voz

segunda-feira, 7 de junho de 2010

O Carrossel da vida

Foto: Eugène Atget
O carrossel é um brinquedo de emoções. Uma metáfora da vida.

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Olha...

Foto: John Szarkowski

As portas barram-nos o olhar, separam o que está dentro do que está fora e trazem o som do silêncio. Abrir portas pressupõe criatividade. No fundo, aprender a olhar para o que está dentro e fora e criar a partir do silêncio.

quarta-feira, 2 de junho de 2010


Despe o olhar... um corpo não é só um corpo.

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Paranoia

Pintura: Egon Schiele, Self Portrait

Há pessoas que são piores que vermes. Mentes perversas que, não conseguindo lidar com a realidade, inventam universos paralelos, com personagens articuladas à sua medida e consoante as necessidades. Quando a realidade não encaixa na ficção abre-se o espaço perfeito para a paranoia, mania da perseguição, desconfiança da própria sombra e espionagem. Pior, começa-se a denegrir, a desconstruir o outro apenas com o objectivo de o aproximar do monstro em que agora se tornou, exactamente por não seguir a via idealizada.
Não sei porquê, mas acho que me encontro dentro de um livro de Kafka, onde o mais absurdo é elevado ao limite.
Haja paciência!

domingo, 23 de maio de 2010

Des(compassada)



As mãos são trémulas, o olhar vagueia num mundo que se torna cada vez mais inacessível. As palavras desfocadas teimam exaustivamente em repetir-se.

Quem olha não quer ver, nem ouvir, nem sentir, nem pensar.

Às vezes, quando a dor se torna tão aguda como o espetar de agulhas em feridas lacinantes, tende-se a perder os sentidos. O mesmo acontece quando temos que aceitar, de forma impotente, o passar do tempo naqueles que amamos.

sábado, 22 de maio de 2010

Tesouro incalculável

Foto: João P

Obrigado por existires e por trazeres sentido à minha vida. Há oito anos que me fazes crescer. Parabéns!

domingo, 16 de maio de 2010

Trajectórias

Pintura: J. Miró, Estrela Azul
Ontem fui voar...

O que queres para ti?



-Fale-me do seu desejo!


Fiquei sem pinga de sangue. Afinal, o que me estava a perguntar? Do que iria agora falar? Não tinha tema. O desejo não tem um tema específico e não é algo que possa ser facilmente materializado em palavras. Voltei a pensar no que iria dizer.


-Desejo... como? Desejamos sempre muitas coisas!?


- Mas o desejo pertence a cada um e, como tal, deve ter uma ideia do que deseja.


- Bem, é verdade. Mas a que área do desejo se refere? Agora que penso nisso, até parece haver uma geografia do desejo.


-Geografia do desejo? Explique lá melhor.


-Bem, não sei. Acho que me perdi um pouco nas palavras. ehhhh....bom, no fundo, eu desejo, como toda a gente, ser feliz. Como vê, não é nada original o meu desejo.


-E o que é isso de ser feliz?

-Isso também é difícil de explicar. Mas penso que a felicidade não existe.

-E ainda assim é isso que procura, o que não existe.

-Talvez. Não é isso o que procuramos todos, o que não existe?

sábado, 8 de maio de 2010

Diamante lapidado com fissuras

Foto: DoB
O poder das palavras tem mais brilho que um diamante. Sem elas como o descreveria?

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Avessos



Há dias assim, em que o riso se mistura no choro e o corpo explode numa dança de avessos.

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Estado de (des)graça

Foto: Jorge Molder, Pinocchio

Pasmo perante o avesso dos meus versos brancos e a sua perspectiva tonal.

O valor da verdade

Francis Bacon, Estudo sobre o corpo humano

Há uma coisa mais dolorosa do que nunca poder ouvir a verdade- é nunca poder exprimi-la, mesmo com a melhor vontade do mundo. Porque o que quer que digamos, o outro não escuta nunca a verdade que lhe queremos transmitir. Aquilo que sai dos nossos lábios e o que se passa na alma do outro, são sempre duas coisas diferentes. No instante seguinte deixa de ser semelhante - isso depende de tantas coisas que nada tinham a ver com a tua verdade e a tua vontade de verdade - isso depende do que o outro queria ouvir, da situação em relação a ti, etc... (...)

Arthur Schnitzel, Relações e Solidão


domingo, 25 de abril de 2010

Opacidade/Luz

Foto: Helga Paris

Não te iludas. O que procuras não existe. Saber não é o mesmo que ter consciência disso. Talvez por essa razão continues a sonhar.

Fala que eu oiço


Necessitamos de uma voz que nos aconchegue, que nos dê conta da nossa existência. É nessas alturas que, quando se está só, se fala em voz alta. É como se o sujeito se dividisse em corpo e voz e um fizesse companhia ao outro. Quebra-se assim uma forma de solidão...

sábado, 24 de abril de 2010

A propósito de presenças reais

Pintura: Artur Bual, Crucificação

O que nos causa sofrimento, dor e angústia tem a ver, quase sempre, com a incapacidade que temos em não aceitar que há muito poucas coisas em que podemos intervir. Acabamos por não estar bem na nossa própria vida porque achamos poder interferir e viver a do outro. Não podemos evitar que o outro adopte determinados comportamentos e profira determinadas palavras que nos afectam. Mas, a bem dizer, cabe-me apenas a mim perceber que, faça o que fizer, a vida continuará. Se viver permanentemente na angústia e desespero será uma vida em vão. Se, por outro lado, der espaço ao outro para viver a sua própria vida, também estarei a viver a minha

No fundo, quando se ganha a devida distância, acabamos por ver que grande parte da angústia e sofrimento é causado apenas pelo próprio.



sexta-feira, 23 de abril de 2010

Beijo redondo!


Há muito que não sentia o calor do meu sorriso...

quinta-feira, 22 de abril de 2010

O Homem que lapidava diamantes



Era, sem dúvida, especial. As suas palavras eram mais que palavras. Desvelavam emoções e

revelavam o brilho de uma alma ainda em busca de perfeição.

Lapidar o olhar é uma verdadeira arte.



quarta-feira, 31 de março de 2010

terça-feira, 30 de março de 2010

A cor da inocência



O Laço Branco (das weisse Band) é um filme desconcertante, que mexe em alicerces ingenuamente sagrados da nossa existência e nos expõe, cruamente, as máscaras da esfera pública e privada. Diria, recorrendo a uma frase de Hitchcock que neste filme “o que não se vê pode ser tão ou mais assustador do que o que se vê.”

Olha bem...

Foto: Paulo Nozolino
“Sinto um grito dentro de mim e esse grito é abafado. Acaba por ser abafado por tudo o que está à minha volta. E a consequência é talvez um choro.”
Paulo Nozolino

sábado, 20 de março de 2010

Sobre os que ficam

Johannes Itten, Die Begegnung

Eu sou, tu és, ele é, nós somos, vós sois, eles são.


Aprendi que todos são sujeitos com diferentes conjugações e que todos fazem parte de um todo a que se chama ser.


quinta-feira, 18 de março de 2010

Fumo

Mondrian, Grey tree


pazadas de terra
ritmo
som
silêncio
fim

quarta-feira, 17 de março de 2010

H a t a m q o

Paulo Nozolino

Hoje perdi as minhas imagens de aconchego. Foi-se a esperança. Ficou a realidade.No fundo, perdi tudo. Já não sei o que faço aqui.

Descorporização

Despe o corpo
entorna a palavra
sente a alma
cheia,
transbordante,
tão vazia.

terça-feira, 16 de março de 2010

POST

Jorge Molder

O AQUÁRIO DE BOHM

Em algum sítio onde és um só
como dois gémeos divididos,
entre o nó da vida e o nó
da morte, um sonho dos sentidos;

em algum passado invivido,
em algum princípio, em algum modo
da memória ou do olvido,
em alguma estranheza, em algum sono;

ou em alguma espécie de saudade
física e inicial
de seres real,
pura exterioridade.

Manuel António Pina, Nenhuma palavra e nenhuma lembrança

Scriptum

Jorge Molder

O QUE O DISCÍPULO ESCREVEU

"Se tudo é ilusão,
se escrevo a ilusão de um poema (o que quer que um poema seja),
ou a ilusão de um poema se escreve a si mesma (o que quer
que escrever seja),
através de mim (uma ausência),
se a própria consciência disso é ilusão,
se a Palavra escreve através de palavras, de verbos e de
substrantivos partilhando a mesma ilusão,
como um espelho refelctindo-se a si mesmo, uma sombra,
e se essa sombra é, por sua vez, a sombra de uma sombra de
uma sombra
da Sombra,
se o Definido, no entanto, como um espesso coração, pulsa no
indefinido e no fugidio,
ou se paradamente olha
fitando o próprio olhar,
se Homero, e Shakespeare, e Santo Agostinho,
e Buda, e Bodhidarma,
são fugazes reflexos desse olhar,
se o discípulo pergunta e o mestre não responde, ou responde
com alguma frase sem sentido (pois não há sentido),
ou se lhe bate, ou se o escorraça (pois tudo é indiferente),
Se a Indiferença é, também ela, provavelmente, indiferente,
e é indiferente que, atrás de si, permaneça, ou não permaneça,
rasto ou sombra,
se de outro modo ou do mesmo modo
algo, alguma coisa, nenhuma coisa..."

Isto foi o que o discípulo escreveu.
No entanto que mão (que mão Real) segurou a sua mão?

Manuel António Pina, Nenhuma palavra e nenhuma lembrança

sábado, 13 de março de 2010

Trajectórias



"É inútil procurar encurtar caminhos e querer começar já sabendo que a voz diz pouco, já começando por ser despessoal. Pois existe a trajetória, e a trajetória não é apenas um modo de ir. A trajetória somos nós mesmos. Em matéria de viver, nunca se pode chegar antes. A via-crucis não é um descaminho, é a passagem única, não se chega senão através dela e com ela. A insistência é o nosso esforço, a desistência é o prémio. A este só se chega quando se experimentou o poder de construir, e, apesar do gosto de poder, prefere-se a desistência. A desistência tem que ser uma escolha. Desistir é a escolha mais sagrada de uma vida. Desistir é o verdadeiro instante humano. E só esta, é a glória própria de minha condição. A desistência é uma revelação".


Clarisse Lispector

sexta-feira, 12 de março de 2010

Fala também tu



Fala também tu,
fala em último lugar,
diz a tua sentença.

Fala -
Mas não separes o Não do Sim.
Dá à tua sentença igualmente o sentido:
dá-lhe a sombra.

Dá-lhe sombra bastante,
dá-lhe tanta
quanta exista à tua volta repartida entre
a meia-noite e o meio-dia e a meia-noite.

Olha em redor:
como tudo revive à tua volta! -
Pela morte! Revive!
Fala verdade quem diz sombra.

Mas agora reduz o lugar onde te encontras:
Para onde agora, oh despido de sombra, para onde?
Sobe. Tacteia no ar.
Tornas-te cada vez mais delgado, irreconhecível, subtil!
Mais subtil: um fio,
por onde a estrela quer descer:
para em baixo nadar, em baixo,
onde pode ver-se a cintilar: na ondulação
das palavras errantes.

Paul Celan, sete rosas mais tarde

quinta-feira, 11 de março de 2010

Sensibilidades

Van Gogh, Japonaiserie
Flores de cerejeira no céu escuro
E entre elas a melancolia
quase a florir
Matsuo Bashô

terça-feira, 9 de março de 2010

Percepções

John Blakemore, Ambergate
"A mesma paisagem
escuta o canto e assiste
à morte da cigarra"
Matsuo Bashô

segunda-feira, 8 de março de 2010

Escuta

Pintura: Santiago Ydáñes

Escuta
ouve a minha voz
o grito
o medo
o silêncio
porque teimas em falar?
porque não ouves?
porque te espantas?
Escuta
tudo é silêncio

domingo, 7 de março de 2010

Reconheço, logo existo?

Jerry Uelsmann

Há doenças piores que as doenças,
Há dores que não doem, nem na alma
Mas que são dolorosas mais que as outras.
Há angústias sonhadas mais reais
Que as que a vida nos traz, há sensações
Sentidas só com imaginá-las
Que são mais nossas do que a própria vida.
Há tanta cousa que, sem existir,
Existe, existe demoradamente,
E demoradamente é nossa e nós...
Por sobre o verde turvo do amplo rio
Os circunflexos brancos das gaivotas...
Por sobre a alma o adejar inútil
Do que não foi, nem pôde ser, e é tudo.

Dá-me mais vinho, porque a vida é nada.

Fernando Pessoa

quarta-feira, 3 de março de 2010

Fragmentos

Foto: Paulo Nozolino, Espoliados, Madrid 2003


O corpo amanheceu dorido
fragmentado
deslassado.




terça-feira, 2 de março de 2010

A palavra viva

Pollock
Muro em vez de boca, cal em vez de língua. Boca em vez de muro, língua em vez de cal. Um ímpeto, uma cor, uma mancha, uma marca escrita, um círculo de terra, uma coisa viva. Tantos astros de areia, tantos rostos de pedra! E o céu vasto, redondo, completo, os vultos vivos, ligeiros, matinais. Ritmo, crescimento, inundação. Por toda a parte o silencioso calor de um animal aéreo. O mundo acendeu-se com as suas árvores transparentes. Tudo é fácil, tudo é fluido. Suavemente vazio, na nudez intacta, o corpo escreve com a espuma do ar.
António Ramos Rosa, Clareiras


sábado, 27 de fevereiro de 2010

Prazeres


Magritte, La condition humaine

Sento-me à mesa. À minha frente uma chávena de chá.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Memória de elefante




Os sótãos são locais de memórias. Guardamos toda a tralha que, por razões afectivas,logísticas e inconscientes, não conseguimos largar. O mesmo acontece com as pessoas.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Dá-me a tua mão



Dá-me a Tua Mão

Dá-me a tua mão: Vou agora contar-te como entrei no inexpressivo que sempre foi a minha busca cega e secreta. De como entrei naquilo que existe entre o número um e o número dois, de como vi a linha de mistério e fogo, e que é linha sub-reptícia. Entre duas notas de música existe uma nota, entre dois factos existe um facto, entre dois grãos de areia, por mais juntos que estejam, existe um intervalo de espaço, existe um sentir que é entre o sentir - nos interstícios da matéria primordial está a linha de mistério e fogo que é a respiração do mundo, e a respiração contínua do mundo é aquilo que ouvimos e chamamos de silêncio.

Clarice Lispector

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

After the requiem...


Malevitch- Quadro negro, 1915

domingo, 21 de fevereiro de 2010

Se eu pudesse...


Salvador Dali, Horseman Death

Hoje as palavras estão manchadas.
Tal como as nódoas que teimam em não sair, em deixar marca, em alterar o tecido, também as palavras revelam a mesma capacidade. Marcam-nos, alteram-nos o tecido físico e emocional, deixam-nos uma marca definitiva.
Há dias em que gostaria de não existir na palavra.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

A propósito das línguas





Não é por acaso que hoje em dia se fala muito da importância e necessidade de conhecer várias línguas. Sem entrar em promiscuidades é, no entanto, certo que quanto ao tamanho as há de todo o género: afiadas, compridas, de trapo, de palmo e meio, viperinas...
O que me parece importante é fazer algo com a língua, como, por exemplo, desprendê-la, desenferrujá-la, pô-la em forma, exercitá-la para que dela se tire o devido proveito.
Actualmente fala-se muito mal. Mal-diz-se. Não se conhece a própria língua; às vezes até nos parece estrangeira. Deve ser por isso que aprender línguas é cada vez mais difícil. Ouvem-se os professores, queixosos e deprimidos, dizer que os seus alunos sabem cada vez menos e têm cada vez menos competência na língua. Afinal onde pára a língua? Em que altura do seu crescimento é que os nossos alunos deixaram de usar a língua e passaram a (ab) usá-la? E os professores, seremos nós capazes de (re) usar a língua?

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Matéria


Foto: Man Ray, Dust breeding

Esta matéria negra de que sou feita,
fermenta no vazio.
Fere.
Despe a alma.
Alimenta.
Estilhaça em silêncio.
Uma semente maligna
germinando em terra fértil
cheia de nada
nada!

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

De nada servem o calor da luz e a frescura da noite


Jan Van Goyen, Windmill

Pranto de Ménon por Diotima

Todos os dias saio em busca de algo diferente,
Demandei-o há muito por todos os atalhos destes campos;
Além nos cumes frescos visito as sombras,
E as fontes; o espírito erra no cimo para a planície,
Implorando sossego; tal como o animal ferido se refugia nas florestas,
Onde antes repousava pelo meio-dia à sua sombra, fora de perigo;
Mas o seu verde abrigo já lhe não dá novas forças,
O espinho cravado fá-lo gemer e tira-lhe o sono,
De nada servem o calor da luz nem a frescura da noite,
E em vão mergulha as feridas nas ondas da torrente.
E tal como é inútil à terra oferecer-lhe o agradável
Erva curitiva e nenhum zéfiro consegue estancar o sangue que fermenta,
O mesmo me acontece, caríssimos! Assim parece, e não haverá ninguém
Que possa aliviar-me da tristeza do meu sonho?
(...)

Hölderlin, Elegias

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

O fim da paralesia!

Jorge Molder


Esta semana li um artigo na revista Visão sobre "A Ciência da decisão". Deixo alguns excertos para reflectir:

"Treinamos procedimentos , mas é impossível treinar a resposta a emoções.

A neurociência tem vindo a mostrar que também nas nossas cabeças, com raras excepções, não há preto e branco, mas antes, cinzento.

Às vezes precisamos de racionalizar as nossas opções e analisar, cuidadosamente, as possibilidades. Outras vezes, necessitamos de dar ouvidos às nossas emoções. O segredo reside em saber quando usar os diferentes estilos de pensamento. Precisamos de pensar, continuamente, sobre a forma como pensamos.

Quantas mais decisões as pessoas tiverem tomado anteriormente, maior será a sua capacidade de decidir.

Em situações de grande tensão, o cérebro escolhe o caminho mais fácil, poupa energia seguindo o princípio físico da energia mínima, e opta pela rotina.

As reacções emocionais só são mais acertadas quando se trata de situações sobre as quais temos um enorme conhecimento, uma grande experiência ou, ainda, em acasões de perigo. Mas dizer, em geral, que as decisões emocionais são mais acertadas é um disparate. Tudo depende da experiência, do tempo que temos para tomar a decisão."



Chega de paralesia na minha vida.

http://www.youtube.com/watch?v=jytXXLFwjmY

domingo, 14 de fevereiro de 2010

Dias de cor feliz!

Jasper Johns - The gray areas

Abro um traço preto no branco do meu descontentamento.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Caminhos de risco

Paul Klee - "Caminhos Principais e Caminhos Secundários", 1929

Depois de um dia excessivamente longo que culminou com uma formação sobre comportamentos de risco, dei por mim a pensar como gostaria de riscar do mapa o dia de ontem.
Como ultimamente me apetece riscar muitos dias da minha vida, posso até estar perante um comportamento de risco. Espero que o meu lápis não se parta!
Não sei o que está a acontecer à classe docente. Por vezes, tenho a real sensação de que, com a idade, caminhamos para a estupidificação. Disponibilizamo-nos a tudo (em nome de quem?para quê?) até mesmo a alinhar em estratégias que, em vez de nos formarem nos deformam ainda mais a inteligência. Ontem estive a atirar um novelo de fio aos colegas (não o fio de Ariadne!) no intuíto de os conhecer melhor. Desenhou-se um labirinto de fios, uma rede (tão na moda!), em que todos (aranhas cegas!) lhe segurámos numa ponta e, em pura comunhão ,pudemos sentir as vibrações uns dos outros. Um verdadeiro momento de risco levado à letra!
Parece-me que, para muitos de nós, onde evidentemente me incluo, já não há uma linha nítida entre "caminhos principais e caminhos secundários". A fronteira é de tal forma pálida e esfumada que nos tornamos cada vez mais indefinidos.
Ontem aprendi que, na minha profissão, pensar é um comportamento de risco.

sábado, 16 de janeiro de 2010

Indecibilidades


Escher

Sobre o teorema da incompletude...

Teorema 1: "Qualquer teoria axiomática recursivamente enumerável e capaz de expressar algumas verdades básicas de aritmética não pode ser, ao mesmo tempo, completa e consistente. Ou seja, sempre há em uma teoria consistente proposições verdadeiras que nao podem ser demonstradas nem negadas."
Teorema 2: "Uma teoria, recursivamente enumerável e capaz de expressar verdades básicas da aritmética e algumas verdades de probabilidade formal, pode provar sua própria consistência se, e somente se, for inconsistente.".

De caras !


A rede social Facebook é um fenómeno que, ultimamente, me tem feito pensar sobre as alterações que a tecnologia provoca nos comportamentos humanos.
Antes era importante haver uma figura "real" à nossa frente, com quem conversar, dar a cara, discutir sobre diferentes pontos de vista, ideias e ideais. A necessidade de contacto físico,tão importante para o ser humano, está a ser, progressivamente, substituida pelo contacto virtual.

Afinal, o que leva tanta gente a aderir a esta rede social?

Surgem-me, de imediato, várias razões possíveis: a novidade (tudo o que é novo se torna, inicialmente,mais apelativo aos nossos olhos); falta de tempo para conviver e estar com os amigos (a eterna questão da falta de tempo?); comodismo (afinal posso ir a tantos sítios dentro das quatro paredes do meu quarto!) ;poupança (a conta da internet é certa, mas ir ao cinema e jantar fica bem mais caro)...
Ainda assim, não me parece que estas e tantas outras razões sejam motivo para este fenómeno de adesão.

Esta forma virtual de poder estar com os outros permite ter várias caras, fugir do que se teme em cada um de nós e projectar, na cara (face) que criamos, a pessoa que gostariamos de ser. Podemos ser sujeitos de duas caras ou ser caras de pau ou ser a outra face da moeda. No fundo, entrar no face é de caras. Podemos ter uma quinta, zoológico, empresas de construção, entrar na Mafia, ter amigos no mundo inteiro, mandar smiles,beijos, flores, presentes raros e todo um mostruário de desejos falhados que aqui se concretizam.
Pergunto-me se a febre do Face não será uma forma moderna de confessionário onde desejamos ser redimidos das nossas frustrações. Aqui tem-se a ideia de que tudo é possível, sem haver penas para os nosso pecados e limites para as nossas aspirações.
Será que é assim tão urgente esquecer o real?
Será assim tão grande a nossa solidão?

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Sobre o olhar...



Tenho descoberto, nesta minha inclusão pelos meandros da pintura a óleo, coisas extraordinárias, nomeadamente sobre a importância do olhar.
A propósito deste quadro de Lucien Freud, dizia-me um colega que visto ao vivo, as cores são de tal forma intensas que, se nos aproximarmos, conseguimos somente ver pinceladas de cor pura e intensa. No fundo, a pintura a óleo, nomeadamente de Freud é muito retineana. Necessitamos de nos afastar, de entrar no jogos de sombra -luz, cor - ausência de cor para ver a totalidade.
Não será também assim com a própria vida?
Cada vez tomo mais consciência que, estando demasiado próximo de um problema nos tornamos miopes, desfocamos a totalidade e o nosso olhar converge apenas para o imediato.
Saber olhar e ver aprende-se ao longo da vida.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Quanto vale uma palavra?

Foto: Jorge Molder

Tenho andado afastada da escrita. Parece que me zanguei com ela pelo simples facto de me confrontar e obrigar, de um modo mais lúcido, a olhar para mim.

Pelos vistos, preciso mais dela do que pensava.